Caro leitor,

Não há como dar a volta à questão: o fecho da sessão desta sexta-feira confirmou a sexta semana de 2018 como uma das piores para os mercados nos últimos anos.

E todas as explicações que oiço parecem indicar que a culpa reside na baixa volatilidade e nas apostas de que esta continuaria reduzida ad infinitum.

Parece complexo? Calma… vamos por partes.

Deve ter notado que os mercados americanos têm estado bastante calmos nos últimos anos, certo?

O S&P 500 – índice que agrega as 500 maiores empresas americanas – tem subido tranquilamente nos últimos dois anos sem grandes repelões.

S&P 500 – Fonte: Bloomberg

Em bom português significa que os mercados não têm sido voláteis.

Como resultado, o índice VIX – que é uma medida de volatilidade – andava bastante deprimido.

VIX – Fonte: Bloomberg

Tão baixo que muitas pessoas acharam aliciante apostarem que a volatilidade continuaria pelas ruas da amargura.

É sabido que Wall Street sempre arranjou uma forma de fazer dinheiro à custa de uma tendência qualquer.

Antes de avançar com uma explicação um pouco mais técnica…

Pode saltar o que não entende, desde que entenda a ideia geral.

Repare que o VIX é calculado a partir do preço das opções sobre o S&P 500. Especificamente, todas as opções fora do dinheiro (calls e puts) tanto para o primeiro como para o segundo mês.

Em teoria, isto permite determinar a “volatilidade implícita” no mercado de derivados nos próximos 30 dias.

O que quero que compreenda é que o VIX é apenas um valor de índice e não um ativo em si mesmo. No fundo, é apenas uma medida de volatilidade.

Para negociar o VIX, os investidores precisarão comprar um ETF que acompanhe o seu desempenho. Também é possível negociar contratos de futuros diretamente. Estes são todos derivados, ou seja, apostas colocadas no desempenho de outros ativos.

Sendo assim, os investidores têm basicamente as seguintes formas de apostar na queda da vol:

Comprar ETFs que replicam a performance inversa do VIX.

Podem vender futuros… ou usar estratégias de investimento que funcionem apenas quando a volatilidade é estável ou está a cair.

E porque a volatilidade tem sido tão baixa, vários investidores continuaram a apostar que a tendência se manteria por um bom tempo…

Ao fazê-lo, o processo tornou-se reflexivo, deprimindo ainda mais a volatilidade.

O problema é que quando algo desperta o VIX, todas estas apostas funcionam como uma mola e toda esta força supressora explode num movimento imparável.

À primeira vista parece que foi isso que aconteceu.

A subida das yields e a quedas das ações assustaram o mercado…

E, de um momento para o outro, estas estratégias de “baixa volatilidade” começaram a stopar as suas posições, alimentando ainda mais o pânico.

Como resultado, o mercado acionista derreteu e, ironicamente, os títulos do tesouro americano – que tinha sido inicialmente o trigger para este susto – recuperaram quando os investidores fugiram das ações à procura do quentinho dos ativos refúgio.

Em defesa da sua carteira

Então e agora?

Bem, as pessoas que foram atingidas com mais força foram os investidores que apostavam que o VIX continuaria a cair indefinidamente….

Estes são os tipos de coisas que não recomendamos comprar porque são opacas, caras e estouram de um momento para o outro.

Então, sinceramente, espero que não detenha nenhum deles, porque a maioria transformou-se em pó…

A questão que se segue é: quantas outras apostas contra a volatilidade ainda precisam ser fechadas e que tipo de efeito isso pode ter no mercado em geral?

Ninguém sabe ao certo.

Contudo, a boa notícia, neste caso, é que o crash na bolsa parece ter sido impulsionado por fatores técnicos, em vez de um problema estritamente estrutural.

Isto não significa que as avaliações bolsistas não estejam caras (nos EUA, estão certamente).

E, claro, ninguém está a afirmar que o aumento das yields globais não vai ser um problema.

Mas, em contrapartida, não estamos em 2007 ou 2008.

A economia mundial está a crescer ao ritmo mais rápido da última década.

E, embora as questões estruturais causadas pelo aumento da volatilidade possam ter várias repercussões, não podem ser colocadas ao mesmo nível da crise do subprime.

Além disso, suspeito que ainda exista um forte sentimento de buy the dip no mercado.

Por último, se o mercado se assustar também teremos sempre os bancos centrais para salvar a festa. Claro que a inflação será sempre um entrave à utilização deste trunfo. Mas parece-me que desgraça particular ainda está um pouco mais adiante no futuro.

Então, o que deve fazer agora?

Aqui é onde o leitor explora sua watchlist – lista de ações que gostaria de comprar, mas que achava que estavam caras…

Quando as pessoas são forçadas a vender por falhas de mercado estranhas (como esta), é uma boa oportunidade para comprar bons ativos a preços decentes.

Boa caçada,

Pedro Gonçalves

Na semana que passou…

 

O que se passa com as criptomoedas?

Já reparou como as criptomoedas têm vindo a cair nas últimas semanas? Tratar-se-ão apenas de correções? Será que ainda têm potencial de valorização? Descubra tudo aqui.

 

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Ao longo de 2017 demos dezenas de recomendações de investimentos, mas nada como isto que temos agora à nossa frente. Tenha acesso à recomendação mais importante do ano aqui.

 

Não adianta chorar sobre leite derramado

Em traços gerais, acredito honestamente que esta correçãoresulta mais de um ajuste técnico depois de uma subida vertiginosa do que propriamente de uma alteração estrutural dos fundamentais.

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