A maioria dos investidores que tem alguma familiaridade com criptomoedas como o bitcoin ouviu falar dos ganhos astronômicos nos preços de mercado. O preço de um único bitcoin subiu de 1 mil dólares para mais de 4 mil dólares em pouco mais de um ano. Investidores que compraram bitcoins ainda antes, a 200 dólares, por exemplo, obtiveram ganhos de 2 mil por cento em questão de poucos anos. Esses preços são reais, ao menos segundo as principais corretoras de bitcoin. Algumas pessoas realizaram os lucros de seus bitcoins, convertendo-os em ganhos reais. Mas essas pessoas provavelmente são a exceção, não a regra. Na esperança de ganhos maiores, muitos investidores ainda mantêm bitcoins em corretoras não-regulamentadas. Este artigo mostra que essas corretoras estão cheias de fraudes e de hackers, além de não estarem sujeitas a qualquer tipo de prestação de contas. Há inúmeras histórias de investidores que tiveram que esperar semanas para liquidar investimentos em bitcoin enquanto os preços passavam por grandes oscilações. Os menos afortunados nunca conseguem liquidar os investimentos, porque as próprias corretoras roubam seus bitcoins ou simplesmente quebram. Aos riscos das corretoras, somam-se uma infinidade de outros riscos, como a associação ao tráfico de drogas, à sonegação de impostos e a coisas ainda piores. A Receita Federal americana, a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC – Securities and Exchange Comission) e o Departamento de Justiça americano já estão trabalhando pesado para ter acesso aos registros das corretoras e conseguir chegar aos criminosos. Órgãos similares de outros países estão fazendo o mesmo. O que eles têm descoberto causa ainda mais danos à estabilidade do mercado e à segurança dos bitcoins. “Caveat Emptor” (o risco é do comprador) é um bom conselho em qualquer mercado, mas o melhor conselho com relação às corretoras de bitcoin é “que o comprador mantenha distância”, ao menos até que tenhamos entidades mais idôneas e uma melhor regulamentação.
De onde vem o Bitcoin?
Bitcoins são criados de acordo com um algoritmo matemático proposto por Satoshi Nakomoto (pseudônimo do que pode ser uma pessoa ou um grupo de indivíduos) em um artigo publicado em 2009.
De acordo com a definição de Nakomoto, matemáticos e engenheiros usando computadores são convidados a solucionar um problema matemático que envolve conservação de registros e uma prova de trabalho (proof-of-work). Em troca da 34 5 realização dessas funções, os operadores do computador, conhecidos como “mineradores” recebem uma recompensa na forma de Bitcoins. Nakomoto completou a primeira prova de trabalho em 2009 e recebeu uma recompensa de 50 Bitcoins.
A conservação dos registros e a prova de trabalho da mineração do Bitcoin são feitos usando software de fonte aberta, o que significa que qualquer um que saiba mexer no software e tenha um computador potente o suficiente pode participar do processo.
Os resultados da conservação dos registros e da prova de trabalho são mantidos em um livro razão, que é armazenado em uma rede descentralizada e distribuída. Novas transações com Bitcoin são adicionadas ao livro razão em “blocos” e o livro razão é chamado de “blockchain.”
A natureza “distribuída” do livro razão significa que o blockchain fica em milhares de servidores individuais. Se um nó ou servidor for destruído, o blockchain ainda existirá de forma fácil e verificável nos outros servidores da rede.
Transações e identificação do blockchain são criptografadas usando um sistema de chave pública-privada padrão de 256-bits. A chave pública é identificável no blockchain, mas os donos individuais não podem ser identificados, e as transferências não podem ser autorizadas sem a chave privada, que fica em posse de cada proprietário individual.
O algoritmo de Nakomoto faz com que cada bloco de Bitcoin seja mais difícil de minerar do que o anterior. Isso acontece porque o blockchain em si é maior e o número de inputs de tentativa e erro necessários para completar a prova de trabalho cresce exponencialmente. Mais de 200 quintilhões de inputs são necessários atualmente para criar um novo bloco.
Mineração de Bitcoin exige tanto poder computacional que só grandes servidores especializados são capazes de realizar a tarefa. Essas operações são quase todas feitas na China, o que levanta dúvidas sobre segurança nacional em relação ao Bitcoin. A mineração exige tanta energia que recebeu criticas de ambientalistas. Veja aqui um vídeo de uma das maiores minas de Bitcoin do mundo.
A natureza privada, criptografada e descentralizada do blockchain significa que nenhuma pessoa ou instituição está “encarregada” do blockchain. Diferentemente de outras formas de dinheiro que são emitidas e controladas por governos, o Bitcoin não é controlado por ninguém a não ser pelo algoritmo matemático. 34 6
Esse sistema de criptomoedas tem um apelo enorme a um grupo diverso composto por libertários, anarquistas, tecnófilos, criminosos, sonegadores de impostos e terroristas.
Nestes próximos posts iremos recomendar a alocação de recursos em produtos de determinados bancos e sugerir evitar outros apesar se seu maior retorno potencial.
Bons negócios!
Paraná Banco
O Paraná Banco segue sendo um dos bancos mais conservadores que analiso. Sua Basiléia é de 21,5%, mesmo após uma distribuição grande de dividendos (R$ 215,9 milhões).
O banco vem, aos poucos, reduzindo sua parcela em crédito empresarial para focar no mercado de consignados, onde temos menor risco. Nesse sentido, reduziram em 63,5% o tamanho da carteira empresarial e só aumentaram em 9% a de consignado. O efeito global foi uma queda, no ano, de 5% na carteira.
A alta Basiléia garante que, mesmo que eles tivessem algum grande problema, que não têm, ainda teriam muito espaço para queimar capital.
Tivemos um aumento do PDD e uma leve piora na qualidade da carteira, mas mesmo assim, o ROE do último trimestre ficou em 15,4%, acima dos 12,8% do mesmo período do ano passado. Assim que eles aumentarem a carteira de crédito (consumindo capital e reduzindo a Basiléia) a sua rentabilidade poderá subir novamente. Isso deixa clara a postura mais que conservadora da instituição, em meio à crise.
Posto isso, temos pleno conforto em investir nesse banco, que além de tudo me paga boas taxas nos CDBs.
Banco BMG
O Banco BMG possuía uma joint venture importante com o Banco Itaú que lhe permitia explorar bem o setor de crédito consignado. Mas em 2016 ele vendeu esse business completamente para o Itaú. O rating é Baa3, pela Moody’s.
O banco já vinha com dificuldade de rentabilizar seu balanço, por causa de sua baixa Basileia, o custo de funding é muito alto. Isso espreme as margens, e qualquer espirro na inadimplência já leva o banco para o prejuízo.
No resultado fechado de 2016, conseguiram um lucro líquido de R$ 193 milhões, equivalente a um ROE de 6,8% (mesmo ROE do ano passado). Apesar de parecer ok olhando por cima, o resultado na verdade foi muito fraco.
Um montante de R$ 959 milhões, vindos (1) da extinção de um empréstimo do FGC – R$ 360 milhões e (2) de um acordo de exclusividade com o Grupo Generali – R$ 164 milhões e (3) da venda da Joint Venture para o Itaú – R$ 431 milhões, entraram no jogo como “resultados não operacionais”, evitando assim que o lucro fosse bem negativo.
Foi um caso bem parecido com o do Banco Original. Além disso tudo, sua carteira D-H foi de 6,4% para 10%, o que é um crescimento bem preocupante. No semestre passado eles seguiram uma estratégia de aumentar a carteira de crédito para conseguir maior retorno em escala, em um business com margens comprimidas.
E com isso, a 13 Basiléia foi para o chão, caindo de 17,5% para 14,4%, ajudada inclusive por novos aportes de capital dos acionistas. Este semestre eles recuaram, possivelmente com a venda da participação pro Itaú, e o ano ficou com uma redução de 3% na carteira.
Com isso tudo a Basiléia subiu para 20%, e o Banco fez uma redução de capital de R$ 400 milhões.
O que ainda preocupa são as notícias vinculadas pela imprensa, classificando o BMG como suposto banco ligado ao Mensalão, e o Banco Schahin (comprado recentemente pelo BMG) como suposto banco ligado ao Petrolão.
1Resumindo, nem pagando boas taxas investiria nesse banco.
Quando o preço em dólar de uma unidade de qualquer ativo pula de US$ 1.938 para US$ 4.425 em um mês sem motivo aparente, é justo questionar se não estamos testemunhando a criação de uma bolha. Foi exatamente o que aconteceu com o Bitcoin entre 16 de julho e 17 de agosto de 2017.
A alta impressionante de 128% em um mês, que, anualizada, resulta em mais de 1.540%, soma-se ao fato de que o Bitcoin custava US$ 580 há apenas um ano; um ganho de 630% nos últimos dozes meses. Dois anos atrás, o Bitcoin custava US$ 225, então o ganho de dois anos foi de 1.870%.
Considerando o período de um mês, um ano ou dois anos, anualizado ou real, esses ganhos são de tirar o fôlego.
A resposta à questão da bolha é quase certamente “sim”, mas ela diz pouco sobre o que causa a bolha ou quanto tempo ela vai durar.
Não adianta avaliar o Bitcoin com base em “valor intrínseco”. O Bitcoin não tem valor intrínseco, assim como o dólar e o ouro. Valor intrínseco é uma teoria econômica obsoleta que foi abandonada pelos economistas em 1871. A frase “valor intrínseco” é propagandeada frequentemente, mas não serve para calcular o valor do Bitcoin.
Em vez disso, os economistas usam valor subjetivo como forma de considerar os preços. A teoria do valor subjetivo diz que o preço de algo é aquele que o comprador está disposto a pagar a um vendedor com base na utilidade dos bens e serviços para o comprador.
Ajuda, mas “utilidade” pode ser um conceito escorregadio. Às vezes, utilidade é completamente prática (“eu preciso de um carro para chegar ao trabalho e ganhar meu salário, então o carro tem uma utilidade que eu posso valorizar”). Mas, às vezes, utilidade é idiossincrática (“eu gosto de jogar, então vou gastar meu dinheiro em Las Vegas, apesar de as chances de perder serem grandes”).
Bitcoins certamente têm utilidade para algumas pessoas. É fácil e barato realizar pagamentos. Oferece anonimato para aqueles que o valorizam (incluindo criminosos e 34 7 terroristas). É útil como forma de escapar do controle de capitais para aqueles presos em sistemas como os de Cuba, Coreia do Norte ou China. E também pode salvar a vida de refugiados que estão vulneráveis a ataques e confiscos quando fogem de um país para o outro.
Mas quase não há dúvidas de que as movimentações de preço do Bitcoin vêm da utilidade da mentalidade de “ficar rico rápido” ou de receber “algo de graça”. Ganância e a emoção de jogar têm utilidade para alguns, e Bitcoins certamente podem satisfazer essas necessidades e desejos.
Já ressaltamos que o aumento do preço do Bitcoin em dólar também pode ser visto como um colapso do dólar se considerarmos que o Bitcoin é uma reserva de valor estável e uma unidade monetária estável. Isso acontece porque tanto o Bitcoin quanto o dólar são formas de dinheiro e sua taxa cruzada é apenas um swap de moedas, não um investimento.
Se o Bitcoin for mantido constante, então o dólar caiu 75% frente à criptomoeda em 2017. Que outra evidência existe para um colapso generalizado do dólar? Nenhuma!
Tanto o ouro quanto o euro tiveram ralis este ano, mas apenas na faixa dos 10% aos 20%, nada comparado aos ganhos anualizados de 1.540% do Bitcoin (se há um colapso generalizado da confiança no dólar, como mostrado pelo preço do ouro, o Bitcoin certamente se beneficiaria, mas, por enquanto, o Bitcoin é o outlier).
Na ausência de evidências provenientes de outros mercados que indiquem um colapso do dólar, o aparente colapso do dólar em Bitcoin parece destacado de definições prosaicas de utilidade e, assim, só pode ser explicado pela ganância. A notícia não é boa para o Bitcoin porque uma das lições constantes dos mercados especulativos é que a ganância pode se transformar em medo da noite para o dia.
Há muitos exemplos de dinâmicas de bolha em que movimentos de preço hiperbólicos em dólar, sem relação com outras informações sobre um declínio do dólar, tiveram reversão rápida em um colapso catastrófico. A movimentação no índice NASDAQ 100 entre 1996 e 2000 após o IPO do Netscape, mostrada no primeiro gráfico, abaixo é um exemplo útil e de certa forma recente.
Já a queda de 75% da NASDAQ, depois de janeiro de 2000, é um bom indicador do que acontecerá com o preço do Bitcoin em dólar assim que um catalizador mude de ganância para medo. Diversos desses catalizadores são discutidos a seguir. Bitcoin a US$ 200 ou menos (como no início da fase mais hiperbólica) me parece provável nos próximos dois anos.
Outro aspecto importante do valuation do Bitcoin é o fato de ele nunca ter passado por um ciclo econômico completo. Como discutido anteriormente, o Bitcoin foi criado em 2009. Foi o ano em que o atual ciclo econômico teve início.
É verdade que essa recuperação econômica foi uma das piores já registradas. O crescimento americano médio foi de cerca de 2% ao ano, comparado aos pelo menos 3% das recuperações prévias. Mas, mesmo assim, é uma das recuperações mais longas da história. Ninguém sabe quando a próxima recessão ocorrerá, mas, depois de uma expansão de 96 meses, ninguém deve se surpreender se ela chegar logo.
Recessões não são a mesma coisa que pânicos financeiros. Às vezes, recessões e pânicos ocorrem juntos, como em 2008. Às vezes, recessões ocorrem sem pânicos (1990), e, às vezes, pânicos ocorrem sem recessões (1998). De qualquer forma, o Bitcoin nunca passou nem por uma recessão, nem por um pânico.
O comportamento dos investidores em adversidades financeiras pode assumir formas diferentes. Às vezes, liquidação de títulos, às vezes, de ações, às vezes, de commodities. O que pânicos e recessões têm em comum é que todos desejam liquidez.
Quando a próxima recessão ou pânico acontecer, provavelmente logo, a demanda global por liquidez forçará as pessoas a vender Bitcoins para pagar suas dívidas e cobrir suas chamadas de margem? Uma alta no desemprego forçará as pessoas a vender Bitcoins para pagar as contas do mês?
Em caso positivo, toda essa venda forçada, somada à demanda por liquidez, fará com que o preço do Bitcoin entre em colapso se isso ainda não tiver acontecido por causa da dinâmica de bolha descrita anteriormente?
Já vimos como ações, títulos, ouro, imóveis e outros ativos se comportaram em recessões e pânicos no passado. Mas não temos ideia de como o Bitcoin se comportará, porque a criptomoeda nunca passou por um clima de adversidade econômica.
Estimo que o Bitcoin sofrerá com um choque de liquidez quando investidores venderem todos os tipos de ativos, incluindo Bitcoin, em busca de formas mais líquidas de dinheiro que governos e credores estejam preparados para aceitar. Um colapso de pelo menos 75% no preço do Bitcoin em dólar parece provável.
Um Bitcoin é uma unidade de conta registrada em forma digital. Nesse sentido, dizer “um Bitcoin” não é diferente de dizer “um dólar”, “um euro”, “um centímetro” ou “um quilo”. É uma maneira de contar as coisas.
Um Bitcoin também pode ser uma reserva de valor. Se eu sou o proprietário de 100 Bitcoins registrados em um livro razão digital (o termo “proprietário” pode ser problemático, já que minha identidade no livro razão é criptografada e a chave da criptografia privada só é conhecida por mim; meus direitos de posse nesta área são incertos e ainda estão evoluindo), e se meus Bitcoins podem ser vendidos por US$ 4.000 cada em um mercado líquido em uma Bolsa confiável (outro aspecto problemático discutido a seguir), então eu teoricamente tenho armazenados US$ 400.000 de valor em um suporte seguro, conveniente e anônimo.
Um Bitcoin também pode ser um meio de troca. Alguns negociantes aceitam Bitcoins em pagamentos por bens e serviços de modo geral. Bitcoins podem ser transferidos em unidades fracionadas, no caso de transações menores. Por exemplo, se 1 Bitcoin = US$ 4.000, então 0,001 Bitcoin = US$ 4,00, o que é mais ou menos equivalente a um café do Starbucks.
Se o Bitcoin é uma unidade de conta, uma reserva de valor e um meio de troca, então ele passa no teste tradicional de três partes de definição de dinheiro.
Bitcoin é, portanto, uma forma de dinheiro, assim como dólar, euro, iene e libra. Pode ou não ser uma forma de dinheiro da qual você gosta, mas é dinheiro.
É importante se lembrar disso porque o Bitcoin não é investimento. O investimento é o resultado de usar dinheiro e convertê-lo em algo que oferece riscos e recompensas, como ações, títulos ou imóveis. O investidor, então, lucra ou perde com seu investimento, o que toma a forma de juros, dividendos ou aluguéis. É possível sofrer uma perda total se o investimento não der certo.
Com dinheiro, não há yield e não há investimento, apenas uma taxa cruzada. Quando compradores de Bitcoin dizem que ele “subiu” de US$ 1.000 para US$ 4.000, não é um retorno sobre um investimento, é apenas uma mudança na taxa cruzada. Seria igualmente correto dizer que o Bitcoin não se alterou e que o dólar “caiu” de 0,001 Bitcoins para 0,00025 Bitcoins; uma desvalorização de 75% do dólar quando medido em Bitcoins.
Quando você entende essa análise da taxa cruzada, percebe que o suposto “preço” do Bitcoin é apenas uma preferência de liquidez de algumas pessoas por uma forma de dinheiro em detrimento de outra. Essa preferência não está relacionada aos fundamentos, como estaria na análise de ações ou títulos a partir do management, perspectivas de crescimento e crédito. A base dessa preferência é a confiança.
O problema com a confiança na base da determinação do valor subjetivo do dinheiro é que ela é efêmera. Muda de um dia para o outro por causa de comportamento de massa, que é fácil de teorizar, mas impossível de prever na prática. Bitcoin é dinheiro, mas dinheiro é um jogo de confiança. Lembre-se disso.
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