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Há um episódio estranhíssimo na história Holandesa. No ano de 1637, em plena expansão económica da Holanda, numa sociedade conservadora protestante, calculista nos seus riscos e obrigações financeiras, existiu um descontrolo absoluto na especulação de tulipas. De uma flor praticamente desconhecida, um único bulbo de uma espécie em particular podia chegar a ser negociado pelo valor de mansões de Amsterdam. Mas, que até que um dia, o mercado não acompanhou o crescimento vertiginoso dos preços, e deu-se o colapso.

Em primeiro lugar a flor ficou na moda. Era uma preciosidade vinda do Oriente muito apreciada pela alta burguesia, que começou a exercer uma procura forte sobre uma oferta muito limitada. Os bulbos que chegavam do estrangeiro eram limitados, e o processo de amadurecimento e reprodução da flor também era lento. Assim o fator raridade, cria uma procura quase sempre superior à oferta o que leva os preços para cima.

Depois veio o fato de não ser uma profissão regulada, não sendo necessário pertencer a nenhuma associação profissional ou pagar quotas para cultivar ou negociar tulipas. Assim, várias pessoas tinham um acesso rápido, sem necessidade de entrada de capital ou qualquer investimento, às transações de tulipas. Não porque fossem apreciadores da flor, ou porque as quisessem plantar, apenas pela especulação de preços e pelo lucro rápido que daí podia advir.

Em 1636, tulipas eram vendidas nas bolsas de valores de numerosas cidades holandesas. O comércio das flores era encorajado por todos os membros da sociedade; muitas pessoas vendiam ou negociavam suas posses no intuito de especular no mercado de tulipas. Alguns especuladores tiveram muito lucro, enquanto outros perderam tudo ou quase tudo o que tinham.

Negociantes passaram a vender bulbos das tulipas que tinham acabado de plantar ou ainda que intencionavam plantar (os chamados contratos futuros de tulipa) – apesar de um édito de 1610 ter proibido esse tipo de negócio. O fenômeno foi chamado windhandel (“negócio de vento”) e ganhou espaço sobretudo em tavernas de cidades pequenas, onde se usava uma espécie de lousa para indicar as ofertas de preço.

Em fevereiro de 1637, os comerciantes de tulipas não conseguiam mais inflacionar os preços de seus bulbos e então começaram a vendê-los. A bolsa de valores estourou. Começou-se a suspeitar que a demanda por tulipas não duraria e isso iniciou o pânico no mercado. Os contratos de compra futura passaram a não mais serem honrados uma vez que os preços atuais era apenas uma fração dos preços acordado no contrato.

Outros acharam-se na posse de bulbos cujo preço era muito inferior ao que haviam pago. Consequentemente, milhares de holandeses, incluindo executivos e membros da alta sociedade, ruíram financeiramente.

Os juízes consideraram os débitos como contratados através de especulação e portanto, sem corroboração legal. Assim, as pessoas permaneceram abarrotadas de bulbos comprados antes da quebra, já que nenhuma Corte determinaria a execução do pagamento desses contratos.

É intrínseco a humanidades buscar lucro imediatos ou seguir o movimento da maioria. O bom investidor é aquele que consegue parar e refletir consigo mesmo antes de tomar sua decisão. Compra ao som de canhões, venda ao som de violinos.

As histórias da época de amador são muito divertidas e animadas, porém, não eram tão animadoras assim à época. Tentarei expor novas histórias ocorridas.

Chegou a vez de Docas Imbituba (IMBI4), um porto localizado em Santa Catarina que iria se beneficiar da aprovação da Lei das ZPEs (Zonas de Processamento de Exportação). Esta medida seria capaz de fomentar a atividade de alguns portos brasileiros, entre eles Imbituba.

Pois bem, com o aproximar do dia da votação do projeto a ação sofreu forte especulação. Os ganhos já eram notáveis. No dia da votação em plenário, assisti TV Senado desde o início da sessão às 9 horas. Aloisio Mercadante, então presidente iniciou um discurso afirmando que o projeto já tramitava há anos e que era de suma importância e que deveria ser votado naquele dia de qualquer forma.

Eis que um senhor levanta sua mão e inicia-se o seguinte diálogo:

Senhor: “Excelência, eu não li!”
AM: ‘ Que isso cara, você não leu o que?”
Senhor: “Eu não li o projeto”
AM: “Putz, cara você teve 20 anos pra ler o projeto, isto é da época do Brizola!”
Senhor: “Pois é, mas não li”
AM: Ok então, vamos adiar a votação.
AM: “Prezados, já que não votamos o projeto mais importante sugiro suspender a sessão por hoje, alguém se opõe?”
Sem dar tempo de resposta bateu o martelo e encerrou a sessão as 9:15 da manhã.

Isto gerou mais um dia de especulação e ganhos. No dia seguinte a proposta foi votada e aprovada, o que gerou desabamento do valor as ações.

Há um ditado popular na bolsa sobre este movimento. “O famoso Sobe no Boato e Cai no Fato”.

Outras especulações sobre a de aquisição de bancos estatais pelo Banco do Brasil. De fato já haviam ocorrido alguns movimentos deste tipo.

Portanto, dois bancos estatais Banco do Espirito Santo (BEES3) e Banco da Amazonia (BAZA3).
BEES3 saiu de uma cotação de R$ 0,8 para um pico de R$ 5,00, enquanto BAZE3 foi de R$ 20,00 para R$ 100,00. Em ambos os casos as ações retornaram para seus níveis anteriores em poucos dias.

Mais uma boa história ocorreu com Kepler Weber (KEPL3). A empresa passava por dificuldades e decidiu por emitir novas ações. O problema foi o preço desta subscrição que foi de R$ 0,3 enquanto a cotação de mercado girava em torno de R$ 1. É comum as empresas oferecerem algum deságio para a subscrição de novas ações, porém, não neste nível.

Como esperado as ações iniciaram a derrocada. Duas corretoras foram as maiores vendedoras: Pactual e Link. Posteriormente descobriu-se que ambas estavam vendidas a descoberto e sequer alugaram ações. A Bovespa aplicou uma multa em ambas, porém nem de perto suficiente para contrapor os ganhos obtidos na operação.

Contarei agora alguns casos exóticos dos quais presenciei e/ou participei desde que entrei no mercado em 2006.

Diferente da maioria das pessoas, entrei no mercado operando micos¹ e opções². Operando no mercado de opções comecei com um patrimônio juvenil de R$ 2.000, juntados ao longo da vida com presentes de aniversário e dinheiro de mesada. Em 3 semanas cheguei ao patrimônio de R$ 10.000, ao custo de noites mal dormidas, aftas na boca e tremores no corpo. Sempre acordava de madrugada tremendo e ainda ligava na Bloomberg para ver como estava o Nikei do Japão imaginando se isto poderia alterar meu resultado do dia seguinte.

Porém, um certo dia tudo mudou. Durante um pregão, no qual minha posição já estava em prejuízo, o sistema da bolsa de valores saiu do ar e nenhum home broker no Brasil todo funcionou. Como ainda existia o pregão presencial em São Paulo, as negociações continuaram.

Quando o sistema retornou, a Vale estava com uma diferença de quase 4% em relação ao preço que estava antes do problema no sistema. Assim como dizia o ditado: “Do pó viestes ao pó retornarás”. Meu patrimônio desmoronou para módicos R$ 1.200 em cerca de 15 minutos.

O banqueiro J.P. Morgan costumava dizer: “Se você pudesse vender sua experiência pelo preço que ela lhe custou, ficaria rico”. Sábias e verdadeiras palavras.

Parti então para os micos, afinal de contas, apesar de grandes oscilações, as mesmas não tem data de vencimento, por isso seu valor nunca chegaria a zero em caso de queda da ação objeto.

Um outro caso exotico foi o que ocorreu com TENE5, uma empresa que os investidores sequer sabia-se qual era o ramo de atuação. O gap existente no seu book de ofertas era, entretanto, notável. A diferença entre a primeira compra e a primeira venda chegava a 50%. Assim alguns investidores ficavam por vezes meses aguarando algum desesperado se largar (vender suas ações a um preço baixo). Quando já estava posicionado, normalmente comprava a quantidade mínima pelo preço alto da ordem de venda gerando assim a alta de 50%.
Feito isto, era comum começar a ver nos foruns da internet mensagens do tipo: Foguetão da vez! Vai bombar! Garanta já suas ações!.

E o pior é que os comentários nos foruns funcionavam iniciando novas compras a preços cada vez maiores Em algum momento os compradores iniciais começavam a vender suas posições e embolsávam um excelente lucro percentual que ainda, dada a baixissima liquidez do papel, representava nada nominalmente.

Sem dúvida eram tempos muito intensos e até mesmo divertidos.

Outra grande especulação que vivenciei foi em RSIP4, uma empresa de maçãs que, à época, conseguia a proeza de ter prejuízo bruto, ou seja, para cada maçã vendida a empresa perdia dinheiro, seria melhor encerrar as atividades e ficar no zero a zero. A operação era simples, comprava a 0,40-0,42 centavos e vendia a 0,55-0,58.

Outro caso ocorreu com Hoot4, hotéis Othon, na época da escolha da cidade sede da olimpíada de 2016. A ação já vinha subindo na semana do veredito, porém no momento da apuração experimentavam valorizações mais acentuadas. A cada nova cidade que era eliminada a ação subia cerca de 10%. Obviamente assim que o Rio de Janeiro foi escolhido como sede, a ação desabou tudo que havia subido.

Agora, o que acho ter sido a maior especulação de todos os tempos: Ela ocorreu na chamada Inet em 2007. Inet era uma massa falida do governo que devia ter 2 funcionários, um pra fazer limpeza e outro pra carimbar e assinar páginas e mais páginas de problemas, porém um boato de utilização da Inet para ser a provedora de internet em âmbito nacional levantou o defunto. De uma cotação inicial de 0,30 centavos, a ação atingiu um pico intraday de R$ 22 reais, uma absurda valorização de 7233%.
Outra grande oscilação foi encontrada na antiga TNLP4. Com um movimento extremamente agressivo de compra de um grande fundo do Morgan Stanley, suas ações subiram cerca de 10% ao dia por 3 dias. Isto foi o suficiente para uma opção com valor de R$ 0,01 se valorizasse para R$ 3,20, ou seja, R$ 1.000 teriam virado R$ 320.000, suficientes até mesmo para a aquisição de um imóvel.
Hoje em dia percebo o quanto foi estressante e nem um pouco lucrativa esta época. Conhecimento é sempre a melhor escolha, como disse J.P. Morgan. Teremos mais histórias em breve.

¹ Micos – Ações de empresas em má situação financeira e com baixíssima liquidez

² Opções – Direito de compra/venda sobre um determinado ativo, por um determinado preço em uma data futura pré acordada

Há certas ocasiões que entram na história por sua audácia e efeitos devastadores. Como exemplo podemos citar o caso clássico de George Soros que venceu o governo da Inglaterra em 1992. Todos os países estão sujeitos a ataques deste tipo, basta que a situação se mostre favorável para tal.

O Brasil enfrentava sua pior crise da história, então fundos de hedge globais decidiram agir. No dia 25/09/15 os mercados acordaram sob ataque.

Os grandes fundos globais efetuaram pesadas vendas de iShares MSCI Brazil Capped, um fundo do tipo ETF(Exchance Traded Funds) que acompanha as ações brasileiras. O fundo possui cerca de 84 milhões de ações emitidas, e 59 milhões, ou 70%, estão short (jargão de mercado para vendas a descoberto).

Para lucrar com esta operação os fundos iniciaram então um ataque nas posições locais (Brasil).

O dólar disparou 2,28% no dia. Tal subida ocorreu mesmo com intervenções do Banco Central fechando a 4,14, tendo atingido um pico de 4,24 durante a parte da manhã.

Com as ações o caso não foi diferente com queda de cerca de 2% tendo alcançado quedas superiores também no período da manhã.

Na renda fixa abriu-se uma janela espetacular, onde os títulos pré fixados alcançaram a taxa de 19%, retornando ao longo do dia para 16%. Ou seja, seria possível auferir grandes retornos fazendo “day trade” da renda fixa.

Por sorte, o país possuía cerca de R$ 370 bilhões em reservas e pôde intervir diretamente no mercado por meio de 2 leilões de swap cambial contribuindo para amenizar o movimento.