Após subir forte no começo da semana passada, a Bolsa devolveu um pouco dos ganhos e fechou em alta de 1,84%. Em meio a dados econômicos mistos, o campo político também chamou a atenção, com destaque para a declaração do atual ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, que tocou em um assunto que é tabu no Brasil. Quando questionado no programa “Roda Viva” sobre a privatização da Petrobras, o ministro respondeu que uma privatização seria o provável caminho a ser tomado. Não à toa, o mercado entrou em modo de euforia no dia seguinte à declaração — Petrobras (PETR4) subiu 3,7%. A companhia, que sofre há décadas com problemas de ineficiência, aumento da dívida, corrupção e uma péssima política de preços de combustíveis, parece estar cada vez mais em linha com as melhores práticas de governança e gestão. Desde o início do governo Temer, a estatal, que hoje é presidida por Pedro Parente, exministro de FHC, tem uma cara bem diferente da deixada pela ex-presidente Dilma (tchau, querida!). Com uma administração pró-mercado, Parente conseguiu reverter o cenário catastrófico da Petrobras, que já no primeiro trimestre de 2017 apresentou um Ebitda recorde. A Direto ao Ponto A recomendação para a semana é manter as posições e esperar um pouco mais de definição do mercado. Às vezes, a melhor coisa a se fazer é não fazer nada. 15 3 continuar dessa forma, a companhia pode voltar a pagar dividendos aos acionistas, fato que não ocorre desde 2014. É claro o objetivo do governo de diminuir a participação nas estatais brasileiras, mas aprovar uma privatização da Petrobras em meio ao atual cenário é tarefa quase impossível e provocaria um imenso desgaste político. Há poucos dias, vimos como foi custoso ao governo Temer toda a questão do leilão das usinas da Cemig — uma corja de políticos mineiros lutou com unhas e dentes para manter a histórica fonte de cargos e indicações políticas. Mesmo que a agenda de privatizações esteja andando, o governo tem cada vez menos capital político para gastar e, com isso, está cada vez mais difícil aprovar a reforma da Previdência, uma das mais importantes e urgentes. O atual ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, já mudou seu discurso e prevê a aprovação da reforma da Previdência para novembro. Nos meses anteriores, o ministro vinha afirmando que o texto seria aprovado já em outubro. A verdade mesmo é que já começamos a trabalhar com a hipótese de que esse será um abacaxi a ser descascado pelo próximo presidente — vai ser no mínimo interessante saber como os presidenciáveis vão endereçar a questão durante a campanha. Ainda no campo político-econômico, o Senado aprovou a MP do Refis, permitindo o parcelamento de dívidas de empresas e pessoas físicas com a União. O modo como o texto passou não agradou à equipe econômica, que vem tentando aumentar a arrecadação de todas as maneiras para fechar o ano dentro da meta (que já foi revisada). Olhando para os indicadores, encerramos a semana com um sentimento agridoce — algumas coisas vieram boas, outras nem tanto. Bem em linha com o que esperamos de uma recuperação lenta e gradual depois da maior crise econômica da história “destepaiz”. No campo econômico, dados da Markit mostraram um PMI de 50,9 em setembro, repetindo o desempenho de agosto. O índice é peça-chave para medir negócios e a condição da economia — quando acima de 50, representa expansão na produção de bens manufaturados. 15 4 Na terça-feira da semana passada, o IBGE divulgou dados da produção industrial abaixo da expectativa. Os números indicaram queda de 0,80% em agosto na comparação com o mês anterior e crescimento de 4% na comparação de agosto de 2017 com o mesmo período em 2016. Apesar de vir abaixo da expectativa, os dados não revertem a tendência da indústria que, mesmo a passos de tartaruga, vem apresentando crescimento. Na quinta-feira (5), a Anfavea divulgou os dados da produção de veículos e confirmou o movimento de retomada do setor automotivo. A produção no mês somou quase 237 mil novos veículos no mês de setembro (evolução de 39% na comparação anual). Não é por menos que nossa posição em Marcopolo vem subindo semana a semana. O setor, que andou de ré por mais de dois anos, finalmente mostra retomada em todos os segmentos de veículos. A inflação, mesmo que ainda abaixo da meta, apresentou uma aceleração e causou uma espécie de susto no mercado (cachorro que foi picado por cobra tem medo até de linguiça). Dados do IPCA superaram a expectativa (0,09%) e mostraram alta de 0,16% em setembro. No acumulado de 12 meses, saiu de 2,46% para 2,54%. Apesar da surpresa, ainda não vemos motivos para que o Banco Central mude seu discurso de redução moderada da Selic. O que estamos vendo é uma redução nas expectativas mais otimistas — Selic muito abaixo dos 7% não parece factível, ao menos por enquanto. Ainda trabalhamos com o cenário de “escadinha”, ou seja, reduções de 75 bps, 50 bps e 25 bps nas três próximas reuniões do Copom, o que levaria a taxa a 6,75% no fim do ano. No cenário externo, a escolha do próximo presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e a redução do ritmo de compras pelo Banco Central Europeu (BCE) vem movimentando o mercado e causando apreensão. Nos EUA, Donald Trump continua sem grandes conquistas no Congresso. Nas eleições de 2017, ele prometeu uma política fiscal expansionista e menos regulação no mercado, o que permitiria trazer a volta do emprego para a população americana e fazer a América “Great Again”. 15 5 O problema é que, desde a crise de 2008, os Estados Unidos adotaram uma política monetária extremamente expansionista, o que levou a um aumento significativo da dívida pública e do balanço do Fed. A atual presidente da instituição, Janet Yellen, que comandou o maior banco central do mundo com uma postura cautelosa e previsível, vem mudando seu discurso e indicando que os EUA devem subir os juros básicos em mais 25 bps ainda este ano. Será que a pomba virou falcão? Mas o ponto é que no começo do próximo ano a “vovozinha” se aposenta e Trump precisará indicar um novo presidente para o Fed. É aí que mora o perigo. O Brasil, por se tratar de um país emergente com problemas fiscais, fica muito mais suscetível a essas mudanças. Um candidato menos ponderado — que poderia subir os juros em um ritmo mais rápido, pode levar a uma desvalorização da nossa taxa de câmbio, que, após forte ajuste em 2015, tem ficado comportada e não gera pressão inflacionária. Dentre as características que Trump procura em um candidato, estão um discurso gradual de alta nos juros e uma redução das amarras do sistema financeiro, que teve sua regulação mais restrita logo após a crise de 2008. É uma ótima combinação para a economia brasileira, mas pode trazer grandes problema futuros para a economia mundial. Na Europa, o banco central vem discutindo a redução do programa de ativos. O BCE deixou claro que a redução será gradual, o que deve manter a liquidez por mais algum tempo e dá ao governo brasileiro mais uma oportunidade de consolidar a questão fiscal — com menos volatilidade no câmbio, temos uma inflação futura menos pressionada por mudanças na política monetária externa. Um eventual desarranjo nos EUA e/ou na Europa poderia gerar forte desvalorização cambial para moedas emergentes (Brasil inclusive). Nesse cenário, uma das primeiras medidas do Banco Central (ainda mais um conservador como o atual) seria apertar a política monetária (subir juros), o que colocaria nossos planos de crescimento em modo de espera. 15 6 Mas o que temos pela frente ainda é uma queda de juros gradual e, portanto, cada vez mais devemos observar a migração da renda fixa para a variável. Pelo que estamos vendo, até alguns fundos mais conservadores estão migrando seu portfólio para a Bolsa. Com a retomada da economia, as companhias devem apresentar forte expansão de lucro — fluxo positivo de capitais e crescimento de lucros formam uma combinação bastante favorável para a renda variável.

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