No fim de 2014, a China tinha, de longe, a maior posição de reserva de moeda forte que o mundo já havia visto – mais de 4 trilhões em dólares, euros, ienes, ouro e outros ativos valiosos (excluí os Estados Unidos dessa comparação porque 60 por cento das reservas mundiais são constituídas por dólares americanos; como os EUA podem imprimir dólares à vontade, o país não precisa tê-los em reserva. E a maioria dos leitores se surpreenderá ao saber que 70 por cento das reservas dos EUA são de ouro.) Contudo, na China, as coisas sempre estavam piores do que pareciam. Como diz uma velha piada do setor bancário: se você deve um milhão de dólares ao banco, você está com um problema, mas se você deve um bilhão de dólares ao banco, o banco está com um problema. Foi assim que Donald Trump escapou da falência durante o colapso do setor imobiliário comercial que ocorreu no fim dos anos 1980 e no início dos anos 1990; Trump devia tanto dinheiro aos bancos que eles o mantiveram no mercado para ajudá-los a conseguir receber. O resto é história. Por isso, quando vi que os EUA deviam 1,5 trilhão de dólares à China (esse é o valor de títulos da dívida do Tesouro que a China tinha em reserva), sabia que a China estava com problemas. Depois de 2014, com a ameaça de desvalorização do yuan e a formação evidente de uma bolha de crédito e do setor imobiliário, a China perdeu 1 trilhão de dólares em reservas, o que fez sua posição cair para 3 trilhões. Desse montante, 1 trilhão de dólares eram ilíquidos (alguém falou em fundos de hedge?), e 1 trilhão de dólares serviam como reserva preventiva para possíveis resgates do sistema bancário chinês. Assim, a China ficou com apenas 1 trilhão de dólares para defender sua moeda; além disso, em 2016, o país perdia reservas a uma razão de 50 bilhões de dólares por mês. A China caminhava para a falência. No fim de 2016 e em 2017, o governo chinês adotou medidas extremas para impedir que as reservas se esgotassem. A China fechou parcialmente a conta de capitais, elevou as taxas de juros e empreendeu um combate feroz às transferências de dinheiro. A estratégia funcionou no curto prazo. A conta de capitais da China se estabilizou em aproximadamente 3 trilhões de dólares. Mas a vitória foi temporária. Este artigo mostra que as fugas de capitais estão voltando a assombrar o país. O capital em fuga está lançando mão de todo tipo de truque, inclusive superfaturamentos, esquemas de lavagem de dinheiro em cassinos e o bom e velho contrabando de dinheiro. Uma das técnicas favoritas dos que tentam tirar dinheiro do país é fazê-lo com bitcoin e outras criptomoedas, por meio de laptops e de “brain wallets”. Por esse motivo, há alguns meses o governo chinês fechou todas as corretoras de bitcoin no país. A China está lutando uma batalha perdida. No final, a única solução será uma desvalorização extrema do yuan, de 20 ou 30 por cento, o que acabará com a própria razão da fuga de capitais.

 

Novamente a Trindade Impossível se mostra impossível – http://quartzoinvestments.com/trindade-impossivel/

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