A relíquia Bárbara
O mais fascinante a respeito deste artigo não é o conteúdo, mas sim o “timing”. O artigo informa que a China aumentou a estimativa de reservas comprovadas de ouro para 12.100 toneladas. O texto gerou muita confusão entre as pessoas que seguem de perto questões relacionadas a China, Rússia, ouro e ao status do dólar americano. Alguns leitores entenderam que “reservas” dizia respeito às reservas oficiais de ouro do país, mantidas pelo Banco Popular da China e por sua entidade-irmã não oficial, a SAFE (State Administration on Foreign Exchange, agência estatal de divisas estrangeiras). Esse entendimento é incorreto. As reservas oficiais de ouro do país são de aproximadamente 1,8 mil toneladas, mas pode chegar a 5 mil toneladas, se contado o ouro não registrado. Este artigo se refere às “reservas comprovadas”, um conceito de geologia bem conhecido no meio de mineração. Basicamente, trata-se de uma estimativa de quanto ouro há no solo da China que poderia ser minerado a preços atuais com a tecnologia atual. Doze mil toneladas é, de fato, muito ouro, mas seriam precisos dez anos ou mais e bilhões de dólares para extrai-lo e refiná-lo. Mesmo a uma taxa de 1 mil toneladas ao ano (o dobro da taxa de produção atual da China), o aumento da oferta de ouro seria de apenas cerca de 0,5 por cento ao ano. Além disso, ele ocorreria juntamente com uma diminuição da produção de ouro de fontes tradicionais, como a África do Sul. Portanto, apesar de ser relevante, não mudaria muito o cenário atual. De qualquer modo, o timing é curioso, porque faz apenas duas semanas que a China lançou um ataque ao petrodólar, ao propor o pagamento de petróleo com yuan lastreado em ouro disponível na Bolsa de Ouro de Xangai. Para que o acordo de troca de petróleo por yuan tivesse credibilidade, a China precisava mostrar que seria capaz de fornecer ouro sem mexer em suas reservas oficiais. Este artigo afirma que a China terá vastas fontes internas de ouro por muitos anos. A informação dá credibilidade aos planos do país de precificar o petróleo em yuan convertível em ouro. Se a China dependesse apenas da importação, poderia ser estrangulada pelas sanções sobre o ouro que lhes foram impostas por Estados Unidos e aliados como Canadá e Austrália. Em vez disso, a China parece pronta para concretizar seus planos com ouro próprio. Trata-se de um fato muito importante e que coloca mais um prego no caixão do petrodólar.
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