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No famoso desenho criado no final da década de 80, Lion, o líder dos Thundercats possía a espada justiceira que permitia que ele enxergasse além do que seus olhos podiam ver.

Tentaremos então expor nossa opinião sobre o recente caso Corona Vírus. Para tal vamos utilizar a corrida bancária como comparação.

1 – A corrida bancária

Nenhum banco por maior que seja possui capital para suprir todos os depósitos e aplicações que encontram-se nele depositados. Dai existe o índice de Basileia que é a relação entre o patrimônio de referência de uma instituição financeira e o valor dos ativos ponderados pelo risco. É também conhecido também como índice de solvência ou de solvabilidade de uma instituição financeira. Em 2019 o índice de Basileia era de 20%, ou seja, para cada real depositado no banco, há negócios no valor de R$ 5,00.

Quando um boato (justificado ou não) se espalha todos resgatam seus recursos desta banco o que faz com que o mesmo fique insolvente. Ou seja, trata-se de uma profecia auto realizável.

2 – Falta d’agua

Toda vez que em um condomínio há um aviso que a água pode faltar. Todos os moderadores correm para encher seus compartimentos necessários, inclusive, lavar toda a roupa acumulada, louça e a própria casa. A maioria dos condomínios possuem grandes caixa d’agua justamente para momentos de limitação, porém, ao alarmar as pessoas, elas mesmo acabam esvaziar a caixa d’agua compartilhada com utilização exagerada.

3 – Corona Vírus

Com o Corona vírus acontece o mesmo racional. A doença em si não é tão perigosa para a maior parte da população, porém, possui um contágio muito rápido. Isto acaba por gerar caos na população que corre para os mercados e farmácias e estocam-se preparando-se para o apocalipse. Essa demanda exagerada, gera escassez de bens e sobrepreço o que piora ainda mais o caos. Novamente temos uma profecia auto realizável.

O Barings Public Limited Company (Barings PLC), fundado em 1762, possui uma das histórias mais nobres e trágicas no setor bancário. Inicialmente, a empresa cresceu de importância na Europa durante a guerra contra Napoleão ao financiar as campanhas militares da Grã-Bretanha, ajudando a organizar a recuperação financeira da França após o fim da guerra.

Durante o século XIX, o banco passou a ser considerado como a sexta grande potência européia, envolvendo-se na venda da Louisiana por parte da França para americanos em 1803, no refinanciamento do Banco da Inglaterra em 1839 e na reconstituição do Banco da França (Banque de France) em 1849.

Em 1890, descobriu-se que o banco inglês foi responsável por quase todos os empréstimos adquiridos pela Argentina.
Em 1952, com uma reputação quase restabelecida depois de 50 anos após a crise com a Argentina, e com a aprovação dos bancários ingleses e da gestão do Banco da Inglaterra, o Barings foi escolhido pela recém-coroada Rainha Elizabeth II como um dos guardiões das fortunas reais.

Durante meados da década de 1980, o mercado japonês era altamente rentável, o Barings decidiu então por expandir seus serviços financeiros e abriu uma operação de corretagem de ações em Tóquio.

Em meados da década de 1990, o Barings acelerou o ritmo de suas operações de corretoras internacionais com escritórios em Tóquio, Singapura, Londres e no resto do mundo expandindo suas atividades drasticamente.

Dentre os novos prodígios contratados para gerir os novos mercados estava um jovem, nascido em Watford, Londres, chamado Nick Leeson.
Leeson havia começado a trabalhar na sede do Banco Barings em 10 de julho de 1989, com apenas vinte e dois anos. Sua primeira função foi no chamado back office, uma unidade responsável pela liquidação, documentação, suporte e registro contábil de operações com derivativos.

Sua promoção para o cargo de gerente da Barings Future Singapore (BFS) ocorreu em fevereiro de 1992. Essa subsidiária do banco havia sido criada em Singapura para atuar no mercado de derivativos local. Leeson, que além de gerente atuaria como operador de pregão, recebeu a missão de contratar os operadores e os funcionários do back office. Leeson recebeu orientações que restringiam o tamanho e a remuneração de funcionários dessa subsidiária, resultando na contratação de profissionais pouco preparados acerca do mercado de derivativos.

A princípio, as fraudes de Leeson teriam começado em 17 de julho de 1992 com o intuito de encobrir a falha de uma de suas funcionárias, que havia comprado por engano vinte contratos de títulos futuros do Japan Governmental Bond (JGB’s), o tesouro japonês. Para ocultar essa perda, que chegava a quase 20 mil libras, Leeson utilizou uma conta para acompanhar esse erro, batizada de conta 88888. A partir de então, essa conta passaria a ser utilizada para registro de transações não autorizadas, registrando-se dezenas dessas operações entre os meses de setembro e dezembro do mesmo ano. Assim, a subsidiária que pelas normas locais era autorizada a realizar operações apenas para seus clientes, passava a realizar operações para encobrir seus próprios erros. Consequentemente, em janeiro de 1993, a conta 88888 já acumulava um montante de oito milhões de libras, referentes a 420 contratos de futuros oriundos dessas transações.

Com o crescimento do volume dessas transações, Leeson decidiu realizar operações no mercado de opções para encobrir essas perdas. Com o mesmo intuito, o gerente precisava providenciar a cobertura de sua margem diária, evitando que a contabilidade interna do Barings percebesse suas transações.

Dessa forma, sabendo que a SIMEX (Singapore International Monetary Exchange) operava com libras, dólares e ienes, e que essa mistura de moedas aumentava a dificuldade de controle das operações, Leeson passou a operar com opções straddle, que é uma tática de especulação em que o investidor compra ou vende, por um mesmo aplicador, um número de opções de compra (call) e de venda (put) de ações. Assim, em julho de 1993, em uma arriscada operação, Leeson conseguiu reverter temporariamente sua posição de perda de seis milhões de libras, atingindo um lucro espantoso. No entanto, ao continuar a realizar transações não autorizadas, apenas dois meses depois dessa operação de sucesso, a conta 88888 já detinha novamente uma perda acumulada de mais de um milhão de libras.

Para cobrir a margem diária de suas operações, enquanto gerente, pedia constantemente a transferência de recursos do Barings de Londres para Singapura, o que poderia ser um alerta para a administração do banco.

Leeson, porém, possuía muito conhecimento sobre a contabilização das operações com derivativos. Além disto havia desinteresse de seus supervisores em relação ao registro dessas operações. Sua atuação como operador de pregão, a existência de clientes com grandes volumes de transações e, por fim, suas contribuições positivas, pelo menos sob o ponto de vista da direção do banco, para os resultados do Barings em períodos anteriores, faziam com que esses pedidos fossem atendidos sem grandes questionamentos sobre as suas destinações específicas.

Devido aos lucros obtidos pelo banco, atribuídos às operações com derivativos, Leeson era considerado “um astro” por todos. O que a diretoria do banco não sabia era que as operações do gerente de Singapura já acumulavam perdas de 23 milhões de libras, escondidas das demonstrações contábeis. Uma auditoria interna foi realizada em julho. Após três semanas de investigações, essa auditoria nada identificou de errado, apesar do seu relatório final apontar para o fato de que Leeson exercia tanto a chefia no pregão quanto no back office, fato que lhe permitia “efetuar transações por conta do Grupo e depois garantir que fossem ajustadas e registradas de acordo com as suas próprias instruções”.

Assim, dos 50 milhões de libras em lucros divulgados oficialmente pelo Barings nos primeiros seis meses de 1994, cerca de 25 milhões era apontados como oriundos das atividades da subsidiária de Singapura. Porém, a realidade era que as perdas acumuladas por Leeson no final de julho já chegavam a 50 milhões de libras, ou seja, o equivalente aos lucros totais oficiais do Barings no mesmo período. Já ao final do mesmo ano, o volume de perdas não registradas era de 170 milhões de libras, com 50 milhões repousando na conta 88888 e a diferença sendo representada por margens que estariam em poder da SIMEX.

Desse modo, oficialmente, as demonstrações contábeis apontavam que a BFS, em 1994, haviam gerado um lucro de 28 milhões de libras, fazendo com que a bonificação de Leeson referente às suas atividades naquele ano fosse de 400 mil libras. Em 17 de janeiro de 1995 o Japão foi atingido pelo Terremoto de Kobe, promovendo uma queda geral dos mercados asiáticos, fato que aumentou ainda mais as perdas de Leeson na BFS, que já superavam os 200 milhões de libras.

Contudo, poucos dias após o terremoto, o gerente decidiu adotar uma estratégia ainda mais arriscada de negociação, acreditando que os preços das ações japonesas aumentariam, os preços dos títulos japoneses cairiam e a volatilidade do mercado diminuiria. Para tanto, Leeson aumentou seu volume de negócios nos contratos futuros do índice de ações do Nikkei 225, acreditando em uma rápida superação da instabilidade do mercado e consequente aumento geral dos preços.

Na última semana de janeiro, Leeson chegou a adquirir cerca de 10.000 contratos futuros do índice Nikkei 225. Esse volume enorme de compras da BFS fez com que o mercado reagisse positivamente, subindo de maneira considerável naquela semana de forma que o valor dos contratos ficaram próximos do valor que tinham no período anterior ao terremoto. Dessa forma, Leeson conseguiu recuperar as perdas acumuladas desde o terremoto de Kobe e, além das compras dos contratos vinculados ao Nikkei 225, passou a vender títulos do governo japonês a descoberto, levando a uma ampliação dos pedidos de margem a Londres.

Entretanto, no início de fevereiro, o preço dos contratos passou a cair novamente, ampliando de maneira abrupta os prejuízos acumulados na conta de erro, já que a posição de Leeson no mercado continuava alta.

Em fevereiro de 1995, a BFS passava por uma auditoria independente da empresa Coopers & Lybrand (C&L). Para conseguir obter a aprovação da auditoria, Leeson falsificou duas cartas simulando uma operação de balcão financiada pelo banco, realizada em 2 de dezembro de 1994 e com vencimento no dia 30 do mesmo mês, envolvendo uma transação de opções entre uma corretora de Singapura especializada em futuros e opções, a Spear, Leeds & Kellogg (SLK), e o Banque Nationale de Paris, no valor de 50 milhões de libras. Além disso, Leeson alterou extratos bancários para simular o pagamento pela SLK para aquele mesmo dia.

Assim, ele conseguiu esconder suas ações da C&L que, em 3 de fevereiro, apresentou relatório preliminar positivo para as ações da BFS.
Apenas uma semana após a conclusão dessa última auditoria, as perdas acumuladas pela BFS chegavam a 200 milhões de libras, porém a falência do Barings ainda poderia ser evitada, já que o capital acionário do banco era próximo a 500 milhões de libras. No entanto, nas duas semanas seguintes, essas perdas triplicaram, ultrapassando os 600 milhões de libras. Assim, no dia do pagamento das bonificações relativas ao ano anterior, 24 de fevereiro de 1995, Leeson fugiu de Singapura, mas foi preso em Frankfurt em março de 1995. Após longos oito meses por problemas de jurisdição, foi realocado para Singapura, onde se declarou culpado pelos crimes de fraude contra os auditores externos do Barings e contra a SIMEX, sendo condenado a seis anos e meio de prisão. O total de perdas provocados no Barings por Leeson foi de 927 milhões de libras.

Leeson vive em Barna, oeste da Irlanda. Lisa, a mulher com quem era casado durante seus anos como operador em Cingapura, pediu divórcio e se casou novamente. O Barings foi comprado pelo banco holandês ING pela simbólica quantia de £1.

Em junho de 2005, Leeson lançou um novo livro, Back from the Brink: Coping with Stress.

O filme A Fraude (1999) ou Rogue Trader é um ótimo filme onde pode-se acompanhar toda a trajetória de Lesson e do banco Barings.

Filme: https://www.youtube.com/watch?v=cxSZzTYpZAg
Documentário sobe Nick Leeson: https://www.youtube.com/watch?v=CkhcpcuZvV4