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Seguindo a explanação sobre asneiras normalmente cometidas partimos agora para o ramo imobiliário. Nosso ponto de partida é a compra e venda de imóvel ou terreno sem observar todas as certidões do imóvel ou assinando apenas um contrato de gaveta que nunca foi a registro público.

Outro caso é um casal que adquire seu primeiro imóvel, um apartamento pequeno de apenas 1 quarto. São casados em comunhão parcial de bens, porém na escritura colocam que cada um possui 50% do imóvel. Isto trata-se de uma redundância. Digamos agora que um dos cônjuges também possua um outro apartamento que deseja vende-lo.
O governo dá uma isenção fiscal para quem vende seu único imóvel, não efetuou outra venda no período de 5 anos e venda-o por até R$ 440 mil. Porém, como possui 50% do outro imóvel perderá este benefício.
Outro ponto crucial se dá em um momento de muito sofrimento. Imaginemos que um adolescente seja o único herdeiro de uma família que possuía um bom apartamento em bairro nobre da cidade.

O imóvel foi comprado ha muitos anos e seu valor na declaração de imposto de renda do falecido é irrisória. Pensemos um imóvel que hoje vale R$ 1 milhão e está declarado por R$ 200 mil. O herdeiro precisará pagar ITCMD (Imposto de Transmissão Causa Mortis)na alíquota de 4%.

O que a maioria das pessoas não sabe é que o governo irá reavaliar o imóvel no momento da transferência. Ainda que não seja pelo valor de mercado (R$ 1 milhão) alguma valorização será incluída. Desta forma antes do inventário ser concluído, o herdeiro deverá pagar 15% de imposto de renda sobre o “lucro auferido”.

Por vezes grandes patrimônios familiares se esvaem por falta de liquidez por parte do herdeiro. É comum aparecer oportunistas dispostos a pagar o Imposto e adquirir o imóvel por um preço vil. Sem outra alternativa e ainda em estado frágil o herdeiro acaba por aceitar tais propostas.

Contarei agora alguns casos exóticos dos quais presenciei e/ou participei desde que entrei no mercado em 2006.

Diferente da maioria das pessoas, entrei no mercado operando micos¹ e opções². Operando no mercado de opções comecei com um patrimônio juvenil de R$ 2.000, juntados ao longo da vida com presentes de aniversário e dinheiro de mesada. Em 3 semanas cheguei ao patrimônio de R$ 10.000, ao custo de noites mal dormidas, aftas na boca e tremores no corpo. Sempre acordava de madrugada tremendo e ainda ligava na Bloomberg para ver como estava o Nikei do Japão imaginando se isto poderia alterar meu resultado do dia seguinte.

Porém, um certo dia tudo mudou. Durante um pregão, no qual minha posição já estava em prejuízo, o sistema da bolsa de valores saiu do ar e nenhum home broker no Brasil todo funcionou. Como ainda existia o pregão presencial em São Paulo, as negociações continuaram.

Quando o sistema retornou, a Vale estava com uma diferença de quase 4% em relação ao preço que estava antes do problema no sistema. Assim como dizia o ditado: “Do pó viestes ao pó retornarás”. Meu patrimônio desmoronou para módicos R$ 1.200 em cerca de 15 minutos.

O banqueiro J.P. Morgan costumava dizer: “Se você pudesse vender sua experiência pelo preço que ela lhe custou, ficaria rico”. Sábias e verdadeiras palavras.

Parti então para os micos, afinal de contas, apesar de grandes oscilações, as mesmas não tem data de vencimento, por isso seu valor nunca chegaria a zero em caso de queda da ação objeto.

Um outro caso exotico foi o que ocorreu com TENE5, uma empresa que os investidores sequer sabia-se qual era o ramo de atuação. O gap existente no seu book de ofertas era, entretanto, notável. A diferença entre a primeira compra e a primeira venda chegava a 50%. Assim alguns investidores ficavam por vezes meses aguarando algum desesperado se largar (vender suas ações a um preço baixo). Quando já estava posicionado, normalmente comprava a quantidade mínima pelo preço alto da ordem de venda gerando assim a alta de 50%.
Feito isto, era comum começar a ver nos foruns da internet mensagens do tipo: Foguetão da vez! Vai bombar! Garanta já suas ações!.

E o pior é que os comentários nos foruns funcionavam iniciando novas compras a preços cada vez maiores Em algum momento os compradores iniciais começavam a vender suas posições e embolsávam um excelente lucro percentual que ainda, dada a baixissima liquidez do papel, representava nada nominalmente.

Sem dúvida eram tempos muito intensos e até mesmo divertidos.

Outra grande especulação que vivenciei foi em RSIP4, uma empresa de maçãs que, à época, conseguia a proeza de ter prejuízo bruto, ou seja, para cada maçã vendida a empresa perdia dinheiro, seria melhor encerrar as atividades e ficar no zero a zero. A operação era simples, comprava a 0,40-0,42 centavos e vendia a 0,55-0,58.

Outro caso ocorreu com Hoot4, hotéis Othon, na época da escolha da cidade sede da olimpíada de 2016. A ação já vinha subindo na semana do veredito, porém no momento da apuração experimentavam valorizações mais acentuadas. A cada nova cidade que era eliminada a ação subia cerca de 10%. Obviamente assim que o Rio de Janeiro foi escolhido como sede, a ação desabou tudo que havia subido.

Agora, o que acho ter sido a maior especulação de todos os tempos: Ela ocorreu na chamada Inet em 2007. Inet era uma massa falida do governo que devia ter 2 funcionários, um pra fazer limpeza e outro pra carimbar e assinar páginas e mais páginas de problemas, porém um boato de utilização da Inet para ser a provedora de internet em âmbito nacional levantou o defunto. De uma cotação inicial de 0,30 centavos, a ação atingiu um pico intraday de R$ 22 reais, uma absurda valorização de 7233%.
Outra grande oscilação foi encontrada na antiga TNLP4. Com um movimento extremamente agressivo de compra de um grande fundo do Morgan Stanley, suas ações subiram cerca de 10% ao dia por 3 dias. Isto foi o suficiente para uma opção com valor de R$ 0,01 se valorizasse para R$ 3,20, ou seja, R$ 1.000 teriam virado R$ 320.000, suficientes até mesmo para a aquisição de um imóvel.
Hoje em dia percebo o quanto foi estressante e nem um pouco lucrativa esta época. Conhecimento é sempre a melhor escolha, como disse J.P. Morgan. Teremos mais histórias em breve.

¹ Micos – Ações de empresas em má situação financeira e com baixíssima liquidez

² Opções – Direito de compra/venda sobre um determinado ativo, por um determinado preço em uma data futura pré acordada